
“Era este quadrado aqui”. Com as mãos, a doméstica aposentada Maria do Carmo de Jesus, 64, explica à reportagem do TAB o tamanho dos quartos onde dormiu por cerca de 50 anos. Dá metade do tamanho de sua cozinha. Há 10 anos, Do Carmo, como é conhecida, pôde deixar o “quartinho da empregada” para viver em casa própria, um apartamento de pouco mais de 40m². O apartamento fica no Condomínio 27 de Abril, no Cabula, bairro de classe média-baixa em Salvador (BA). Este é o primeiro conjunto habitacional feito para abrigar exclusivamente as trabalhadoras domésticas
O nome faz alusão ao Dia Nacional da Empregada Doméstica, data que homenageia Santa Zita, considerada a padroeira das diaristas. No Brasil, 92% das pessoas ocupadas no trabalho doméstico são mulheres, e 65% delas são negras, de acordo com o IBGE. A maioria possui entre 30 e 59 anos. Não à toa, movimento sindical dos trabalhadores domésticos brasileiros nasceu em Santos (SP), em 1936, por iniciativa de uma mulher negra, Laudelina de Campos Melo, a dona Nina.
As histórias das moradoras do condomínio 27 de Abril estarão presentes no documentário de mesmo nome, a ser lançado em setembro, em sincronia com o aniversário de dez anos do local. O registro da conquista da casa própria se contrasta com a realidade do país, que não vê profissionais de serviços domésticos como sujeitos de direitos. Quem não lembra da mulher que foi resgatada no início do mês por trabalho análogo à escravidão após 72 anos trabalhando como empregada doméstica?